A morte de Ivan Ilitch – Tolstói

Esse foi o primeiro livro de literatura russa que eu li, e cara, vou falar: que livro maravilhoso! Posso dizer que foi com esse livro que senti aquele famoso soco no estômago da literatura.

A história é super curtinha e a linguagem não é difícil, o mais complicado são os nomes russos, rs… Apesar de ser uma novela curta, é tão profundo, te toca tão fundo na alma, que é difícil explicar e conseguir passar o que é realmente esta obra.

O livro começa contando a história de Ivan Ilitch, um juiz respeitado de família aristocrata do século XIX, que morre ainda no primeiro capítulo. (Isso não é spoiler, tá… Está na sinopse e no próprio título). E seus colegas de trabalho e carteado recebem a notícia com certa aflição, não pela morte, mas pelas promoções que surgirão para esses e seus parentes com a morte de Ivan Ilitch. Então voltamos no tempo, onde temos acesso à todos os acontecimentos de sua vida até então. E como toda pessoa a beira da morte, Ivan Ilitch faz uma reflexão de toda a sua vida e busca um sentido para ela, mas de uma forma genial, ele faz críticas não só a aristocracia e burguesia russa da época, mas da vida que nos é imposta pela sociedade e acatamos como sendo o correto. Uma vida muitas vezes, regada à superficialidade, um bom emprego, um bom casamento, filhos e ele se descobre totalmente infeliz e solitário no meio de tudo isso, e até culpa de certa forma a família por essa infelicidade. Família essa, que não lhe dá a devida atenção e preocupa-se mais em como sobreviver sem o salário dele, sentindo-se em paz com a própria consciência. Ele só consegue se sentir à vontade com seu empregado Gerassim, o único que se mostra realmente sincero com ele, pois esse não preocupa-se com a opinião da sociedade. Ivan descobre que tudo o que viveu até agora foi uma grande mentira e só consegue enxergar algum sentido para sua vida na fase da infância e nesse momento agora da sua morte que ele acredita estar vivendo de verdade. Nesses momentos, através de acontecimentos banais, somos expostos à toda miséria do ser humano, ele questiona nossa incapacidade de se compadecer do sofrimento alheio, com gestos simples ele nos evidencia que quando o fazemos é falso ou por obrigação.

Nos seus últimos momentos, ele ainda afirma que a terrível dor física que sente não é nada perto da dor moral de ter vivido uma vida de mentira tão difícil de admitir para si próprio. Então ele se confessa com um padre, o que lhe causa certo alívio e através de um gesto de amor de seu filho de 14 anos ele aceita que talvez possa ser perdoado. E aí segue a cena de morte mais bem escrita e comovente de toda a literatura, pelo menos da literatura conhecida por mim.

A vocês que leram, peço desculpas se essa resenha se torna rasa, diante da grandiosidade desta obra, me esforcei para tentar expressar para vocês pelo menos 1/3 do que esta história causou em mim.

Como dizem as notas do tradutor: “Todos saímos deste livro, um pouco mais inteligentes e humanizados”.

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